sábado, 15 de setembro de 2012

Baby Rubi Rides Again


Toca a campainha. Abro a porta. É ela.
— Mas você estava na Romênia!
Baby Rubi está segurando a bolsa enorme enquanto espreme uma bisnaga no sovaco.
Resfolega.
— Porra, você não vai me convidar, não?
— Não. O que é que você está fazendo aqui?
— Trouxe o nosso lanche.
Sou tomado de súbita depressão. Suspiro. E entrego a Satanás o futuro do dia.
— Foda-se o mundo. Pode entrar.
A figura gorda passa por mim e vai para a cozinha.
Parece que conhece o apartamento há anos.  
— Cadê o queijo?
— Que queijo?
— Como é que você quer que eu faça um sanduíche de queijo sem queijo?
Lógica perfeita. Como é que eu não pensei nisto antes?
— Pensei em comprar queijo mas desisti.
Baby me olhou surpreendida.
— Por quê?
Pra que é que eu queria o queijo, se eu não tinha a bisnaga? — Ganhei.
Baby não se deu por vencida.
— Me aguarde. Vou ali embaixo comprar.
Abanei a mão.
— Esquece. Eu tenho margarina.
Enquanto comíamos a bisnaga e um café requentado, arrisquei perguntar.
— O que é que você está fazendo de volta no Brasil?
Baby fez a mesma cara de surpresa de antes.
— Você não sabe?
— Não, não tenho a menor idéia. Conseguiu um habeas corpus contra as cento e cinquenta acusações da sua ficha corrida?
Baby deu de ombros.
— Ah, você sabe que eu tenho contatos. Ninguém vai me prender.
— Você não me respondeu.
— O quê?
— Porra, o que é que você está fazendo aqui?
— Vim retomar a terapia.
Botei a mão no peito.
— Comigo?
Ela riu.
— Com quem você queria? — E apontou para o gato Cassius. — Com ele?
Cassius veio se roçar em minhas pernas. 
Viu? Se fodeu.
Vi. E se você ficar dando bobeira, enfio uma vassoura você bem sabe onde.
Cassius saiu de fininho.
— São quatrocentos e cinquenta dólares. E adiantados.
Baby abriu a bolsa, sacou um bolo de notas, contou algumas, e me passou novecentos dólares.
— A consulta de hoje, e mais uma de amanhã.
Eu me senti a própria profissional do sexo. Ou o profissional, sei lá.
Mas grana é grana, e mostrei o divã.


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