quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Tribuno de Maracangalha


Eu falei de Alfredo no post passado. Alfredo é o Tribuno de Maracangalha, que existe mesmo e fica no exótico município de São Sebastião do Passé, na Bahia.
E o que viria a ser Passé? Se você for atrás, vai ver que é o que já não está mais na onda, tipo:
— A Isidora está meio passé.
Hem, que Isidora?
— Passé. Mas fala assim, ó, passê. Passê, entende, como se fosse fechado.
— O que fechado?
— Esquece. Fala passê.
Que nem passa?
— É. A Isidora está que nem passa. Está passé.
Que Isidora?
— Esquece.
Mas voltemoa a Alfredo, o Tribuno.
Alfredo é o único maluco de Passé. Todos os outros foram mandados para o manicômio de Salvador.
— Uai, mas por que ele não foi? — você pode perguntar.
É que Alfredo também é o único cara que fala latim em Passé, e o secretário de Cultura propôs e a Câmara de Vereadores aprovou sob aplausos da situação e apupos do único vereador da oposição que o latim do Alfredo fosse declarado Patrimônio Imaterial de São Sebastião de Passé.
O secretário tentou colocar um dispositivo no decreto que obrigasse o Alfredo a andar com uma placa no pescoço declarando a sua condição de patrimônio, mas parca maioria impediu que fosse perpetrada semelhante aldrabice com o tresloucado de Maracangalha.
Percebendo a notícia embutida no assunto, um jornal da região, o Alvorada de Passé, procurou Alfredo para discorrer a respeito de sua alçada à patrimônio imaterial. O Tribuno dignou-se a uma única declaração, que deixou a cidade perplexa.
Intactilis hereditas non habet corpus neque erectionis.
— É alemão — garantiram alguns.
— Não, é romeno — outros deram como certo.
Consultaram o tabelião e o juiz que, relutantes, definiram com a expressão como latina. No entanto, mesmo os dois sendo bacharéis em direito, não entenderam bulhufas, porque ninguém se lembrava mais de nossa língua avia (Explico-me — mater da mater, entendeu?).
Dada a questão, e como ninguém tinha mesmo a menor idéia do que queria dizer, mandaram um mensageiro a Salvador. O expedicionário retornou com a resposta manuscrita em um papel engordurado.
Patrimônio imaterial não tem corpo, nem ereção.
Que coisa esquisita, né?
— O patrimônio, o corpo ou a ereção?
O vereador da oposição, incitado pelo padre, propôs que fosse cassado o título de Alfredo, por indecência presumida, coisa esta facilmente rejeitada. Em resposta, a situação propôs e aprovou casa, comida e roupa lavada para Alfredo, em troca dele manter o seu latim para si e suas negas, o que ele topou na hora.
Mas que jamais cumpriu, é claro. Hoje Alfredo vive às custas dos cidadãos de Maracangalha, município de Passé (fale passê, por favor), e continua recebendo um por-fora com os seus discursos vespertinos e muito apreciados pelos passantes, cansados do blablablá dos políticos locais.



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