quinta-feira, 20 de julho de 2017

Meu nome não é Malaquias

Não importa que o sobrenome de meu pai seja Malaquias. Não importa que eu tenha nascido no interior do Sertão. Não importa!
0 velho Malaquias
Mas parece que aos caras da Polícia Federal, importa sim, porque minhas fontes me disseram que quando voltar a haver passaporte novo (agora não há grana para emitir, quá, quá, quá!), eles não vão querer me dar um com meu verdadeiro nome.
- Mas o seu verdadeiro nome é Carlos Malaquias! - Tinha de intervir o bundão do Horácio.
- Claro que não. Desde que sou gente, sempre soube que meu nome é Karl Malak, caraca!
- Não é não, Carlinhos - e o desgraçado cai na risada na minha cara!
- Meu passaporte romeno não me deixa mentir! Olha aí, olha o Karl Malak escritinho aí com minha foto.
- Esse seu passaporte fajuto é da época da ditadura na Romenia. Não vale nada depois que o comunismo acabou.
- Eu sou Karl, Karl, entendeu?
- Vulgo Karl,  vulgo, sacou?
- Porra, o Luis Inácio não é Lula? Então eu sou Karl, droga.
O panaca enfiou de novo a cara no jornal, e parece que me esqueceu.
Não pude conter um suspiro. Eu soube que o pessoal que está indo para a cadeia tem a cabeça raspada. Mas pior do que perder a minha vasta cabeleira - pelo menos nas partes posteriores - vai ser se me chamarem de seu Malaquias ou desgraça maior, de Véio Malaquias. Eca!


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Paciente 76


O carinha tá xonado. Pode?
Tudo bem, pode e deve xonar pelo terapeuta. Mas é que eu não estou com saco nenhum para lidar com estas coisas, principalmente de marmanjão.
Já tive xonagem da pesada, de paciente linda e até de velhinha. Tudo bem, mas normalmente é uma coisa manipulável, que o paciente fica meio embatucado com o negócio, e se é homem, não tem peito pra assumir.
Mas desta vez, o cara trouxe aliança de brilhante e tentou fazer até pedido de joelhos.
Cu-ru-zes!
Fora a dúzia de rosas brancas que mandou entregar anonimamente e todo dia, durante as duas últimas semanas.
— Não vem não, camarada, que eu sou hétero.
— Eu também sou, doutor. Mas é que pintou esta doideira, e topo qualquer parada com o senhor.
— Affêê! Tá doido agora, é?
— Doutor, tenho o maior respeito.
— Guenta aí, que eu vou dar um jeito — falei para o gajo.
— Só dá um beijinho na boca, que eu me aquieto.
— Se tentar, dou porrada!
— Hem? — Vi o olhar meio bobo do paciente, e resolvi maneirar.
— Fica calmo. Me espera que eu já volto.
Corri para apanhar a minha agenda. Eu tinha certeza que tinha o endereço de um bordel que ia resolver esta carência do Zé Mané.
Não adiantou muito.
Quando voltei, o paciente 76 já tinha desaparecido.

domingo, 16 de julho de 2017

A Selvagem Anita

O nome dela era Ana, mas a chamavam de Anita, e até de Selvagem Anita. Este selvagem aí não era por braba, macha, ou com história de infringências penais. Era porque ela tinha coisas, ou talvez porque não as tivesse. Ela era moreninha, mixuruca. Tinha um quê suburbano e era inculta. Mas era Anita, e era bom estar com ela.


Naquela noite ela se sentou comigo, apesar do Horácio não estar na mesa. E foi logo pegando em mim.
Eu não estava nem afim de coisa, mas estava gostoso, e eu deixei. E nem tinha aquela coisa de estar traindo o Horácio, porque ela era selvagem e não tinha dono e ele sabia disso.
A gente não tinha muito mais do que abobrinha para conversar, mas eu fiquei ali assuntando...
- Se ela tivesse sido Ana Leocádia, e fosse da nobreza romena, não teria sido mais feliz ou assediada.
Mas todo o jeito fiquei pensando em nome tão nobre.
Um barão bicha que conheci disse certa vez que queria ter duas filhas: uma iria se chamar Maria Leopoldina, e a outra Ana Leocádia.
Na hora achei os nomes horrorosos, mas agora, mais bicha ou mais sábio, acho os nomes ao mesmo tempo coloniais e pós-modernos. O fato é que a bicha de verdade terminou tendo dois filhos garanhões e comedores de neguinha e ganharam nomes másculos e correspondentes aos seus metro e noventa e toda aquela nobreza europeia.
- Continuei assuntando, enquanto Anita me pegava, e eu ia tomando aquele absinto tcheco inigualável.
- Inda bem que o impressionismo acabou, mas o absinto não. Porra, o vinho também não, nem a sífilis apesar de toda a penicilina, nem as meias furadas, nem as calcinhas sujas, nem o cabelo no sovaco das francesas, nem a vontade de come-las, nem o arrependimento.
Anita ficava ali me pegando, e eu pensei então que deveria haver um Dicionário Apaixonado dos Nomes Femininos. Lá eu encontraria então todos estes nomes, e até Terência, Assunta, Pafúncia, Eudóxia e outros que eu não tenho a menor ideia, mas que existem e são belíssimos. Rapaz, eu daria todos os meus dinares por um dicionário assim!
Estávamos em 1989, o último ano socialista, e Anita me lembrou:
- O Ditador bondoso tinha decretado o fim dos pecados, e em seu parágrafo único, o sexo como a mais pura forma de socialismo popular.
Anos depois, lembrando-me deste decreto de artigo e parágrafo únicos, vi que foi por isto que o derrubaram e trucidaram à ele, mulher, papagaio, cachorro e tudo que o pudesse lembrar. Agora a Romênia está até entrando na chatíssima Comunidade Europeia de Anões.
- Você quer?
- Quero.
Daí, parou de me pegar, e fomos para meu apartamento cinzento, socialista, popular e ordinário, que nesta noite estaria um pouco mais aquecido, e na manhã seguinte, por breve, com todos os cheiros de Anita, Eudóxia, Leocádia, Assunta e de todas as outras mulheres que por aí carregava.

sábado, 15 de julho de 2017

A Véia e o Véio

Num gesto heróico, a véia lascada, para espanto dos urubús, senta-se e grita
– Morro! e, num hálito fétido, desaba muda e morta.
Ela queria mesmo dizer era - Vou morrer, seus filhos da puta, mas não deu tempo.
Bem, ela era gringa, e como Urubú não entende inglês mesmo, cagaram e andaram e começaram os trabalhos.
Mas o personagem que eu tinha em mente não era véia, era véio.
E parece que o cara desabou com um
- A-LE-LUI-AAAHHH!
Cheio de fio, de canudinho, macérrimo, verde, se ergue, grita aleluia, e morre. Não entendi nada.
Gritou porque a vida tinha sido boa, ou porque tinha sido uma bosta mesmo, e enfim estava livre da cuja?
A parentada ficou olhando, alguns com a mão na boca, outros disfarçando e apalpando o traseiro para ver se alguma verdade transcendental havia entrado por lá.
- Nunca se sabe... O véio era fio da puta mesmo, e na saideira ainda podia armar alguma.
Os sobrinhos cogitantes queriam cutucar o caveiroso cadáver, mas não ousaram.
Se eu tiver saco, depois continuo.

(feito em 03/02/2009, e editado em 15/07/2017. Aliás, se tiver saco mesmo, além de editar, continuo depois).

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Questões de Sangue


Ontem, logo depois de acordar, passei um café e sentei para tomá-lo junto com um pão dormido com manteiga.
Tudo de pura preguiça, porque poderia ter descido e comprado jornal e pão fresco.
Agora, estava lamentando mais a falta do noticiário, porque o pão velho era só mastigar mais firme e jogar a gororoba pra baixo.
Enquanto cogitava em apanhar um jornal também passado, eis que entra Horácio na cozinha, e se mete em meu complicado problema.
— Você comprou o jornal de hoje?
— Pissurongas.
— Isto aí quer dizer — disse Horácio torcendo o nariz — mais ou menos droga nenhuma?
— Isso mesmo.
Reparei que Horácio trouxe o travesseiro e o colocou no banco antes de sentar em cima.

sábado, 15 de setembro de 2012

Baby Rubi Rides Again


Toca a campainha. Abro a porta. É ela.
— Mas você estava na Romênia!
Baby Rubi está segurando a bolsa enorme enquanto espreme uma bisnaga no sovaco.
Resfolega.
— Porra, você não vai me convidar, não?

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O meu santo nome em vão




Parece que estão usando o meu santo nome em vão...