sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Questões de Sangue


Ontem, logo depois de acordar, passei um café e sentei para tomá-lo junto com um pão dormido com manteiga.
Tudo de pura preguiça, porque poderia ter descido e comprado jornal e pão fresco.
Agora, estava lamentando mais a falta do noticiário, porque o pão velho era só mastigar mais firme e jogar a gororoba pra baixo.
Enquanto cogitava em apanhar um jornal também passado, eis que entra Horácio na cozinha, e se mete em meu complicado problema.
— Você comprou o jornal de hoje?
— Pissurongas.
— Isto aí quer dizer — disse Horácio torcendo o nariz — mais ou menos droga nenhuma?
— Isso mesmo.
Reparei que Horácio trouxe o travesseiro e o colocou no banco antes de sentar em cima.
— Pra que isso?
— Estou com hemorróidas.
— Uh?
— Hemorróidas, droga. Nunca ouviu falar não?
Fiquei curioso.
— E como é que é ter hemorróidas?
Horácio fez uma careta enquanto se ajeitava no banco.
— É como esfregar o traseiro em arame farpado.
A imagem foi tão real que eu estourei numa gargalhada.
E enfiei a cara no chão.
Mas antes disto, bati com a cabeça na quina da mesa e tudo virou uma bagunça sangrenta.
Horácio me estendeu um pano de prato e eu o pressionei contra a testa. As coisas tinham deixado de ser tão engraçadas.
— Tá doendo pra burro.
E aí, o idiota veio de novo.
— Você está sangrando mais que minha hemorróida.
A minha gargalhada voltou com toda a força.
E eu não conseguia mais parar de rir, mesmo quando ele me botou num taxi e me levou para o pronto-socorro.
O plantonista ameaçou não me atender se eu não parasse de rir. Fiz toda a força para me segurar, mas o que consegui foi só uma crise de soluços, que definitivamente o impedia de fazer qualquer coisa.
— Vou lhe dar uma injeção para lhe acalmar — ele disse.
Só me lembro dele se aproximando com uma seringa com uma solução leitosa e depois da cara do Horácio me olhando.
— Acordou?
Tive que pensar um pouco até poder responder.
— Acho que sim — e comecei a rir de novo. — Horácio véio, você é engraçado pra cacete. — Pensei de novo. — Vem cá, e a hemorróida, como é que está?
— Aproveitei que estava aqui e pedi pra examinar.
— E daí?
— Vou ter que operar.
— E quem é que vai fazer os curativos? — Eu disse me borrando de rir.
Horácio deu um risinho.
Lá em casa, só tem eu e o gato Cassius  — pensei. 
E não não achei mais graça nenhuma.

Um comentário:

  1. Pensei que fosse questão de sangue real - familiar... tomei susto...modo de dizer, me surpreendi...

    ResponderExcluir