segunda-feira, 17 de julho de 2017

Paciente 76


O carinha tá xonado. Pode?
Tudo bem, pode e deve xonar pelo terapeuta. Mas é que eu não estou com saco nenhum para lidar com estas coisas, principalmente de marmanjão.
Já tive xonagem da pesada, de paciente linda e até de velhinha. Tudo bem, mas normalmente é uma coisa manipulável, que o paciente fica meio embatucado com o negócio, e se é homem, não tem peito pra assumir.
Mas desta vez, o cara trouxe aliança de brilhante e tentou fazer até pedido de joelhos.
Cu-ru-zes!
Fora a dúzia de rosas brancas que mandou entregar anonimamente e todo dia, durante as duas últimas semanas.
— Não vem não, camarada, que eu sou hétero.
— Eu também sou, doutor. Mas é que pintou esta doideira, e topo qualquer parada com o senhor.
— Affêê! Tá doido agora, é?
— Doutor, tenho o maior respeito.
— Guenta aí, que eu vou dar um jeito — falei para o gajo.
— Só dá um beijinho na boca, que eu me aquieto.
— Se tentar, dou porrada!
— Hem? — Vi o olhar meio bobo do paciente, e resolvi maneirar.
— Fica calmo. Me espera que eu já volto.
Corri para apanhar a minha agenda. Eu tinha certeza que tinha o endereço de um bordel que ia resolver esta carência do Zé Mané.
Não adiantou muito.
Quando voltei, o paciente 76 já tinha desaparecido.

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