sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Eu mato esta Gorda!


Quando as coisas estão muito bem, eu garanto que elas vão piorar!
Eu estava feliz com o bilhete da TAP na mão. E ele ainda era para as seis da tarde o que me daria tempo de resolver minhas coisas.
Daí resolvi juntar os meus parcos caraminguás num baú desmelinguento onde teriam de caber minhas roupas — poucas — meus livros, e minhas panelas. Lembrei inclusive de guardar o meu bandolim, sem o qual não seria nada nas jam sections do Leblon.
Mas não é que já apavorado pela falta de tempo, me surge a Baby Rubi querendo de todo jeito um atendimento?
Não adiantou explicar a ela que eu ia embora e que não ia mais atendê-la. Ela abriu sua bolsa e sacou quatrocentos dólares.
— Eu pago isto pela consulta!
Rico sempre lhe corrompe, né? Quatrocentos doláres ia me dar uma vida boa pelo menos pelas próximas 72 horas que eram o tempo de chegar no Rio. Topei.
E a gorda se estirou no recamiê e começou a disparar uma algarávia que não entendi nada. 
Lá pelas tantas perguntei se ela se importava se eu continuasse a arrumar as minhas coisas e ela fez um sinal com a mão enquanto continuava a falar sem interrupção. Assumi que sim, que topava. E continuei tranquilo.
Tudo pronto, fui lá encerrar a sessão e acho que ela não entendeu.
— Mas como! A gente só está começando.
— Rubi, tem uma coisa essencial sobre a relação terapeuta-paciente que você ainda não conhece. É muito forte. Quer ver?
Ela assenti. Disse-lhe que relaxasse e esticasse o pescoço, respirando fundo.
— Fecha os olhinhos. — Fui até carinhoso com ela.
E fiz o que eu chamo de manipulação fono-respiratória. Ou seja, parti para o estrangulamento.
— Baby, o que mais de essencial eu posso ensinar a você em nossa relação é a extrema proximidade entre a vida e a morte. Chama-se Morte por Asfixia.

Quando vi que Baby estava próxima do entendimento final do que eu estava demonstrando, relaxei e a ajudei a se levantar.
Com ela aparentemente recuperada, apesar da tosse de cachorro, repeti a pergunta.
— Compreendeu a relação mais próxima que um terapeuta pode manter com um paciente?
Baby Rubi ainda segurando o pescoço assentiu, e tratou de sair de fininho.
Vi-a lá fora, meia tonta. Quase que pegou o táxi que já me esperava, mas dei um grito, e se mandou apressada. Pensei em lhe recomendar um xarope para a faringite, mas deixei passar.
Joguei tudo dentro do carro e nos mandamos para o Aeroporto de Otopeni.
Na estrada, tentei assoviar a Garota de Ipanema mas não lembrava de porra nenhuma.
Pensando bem, já não tinha a menor importância.

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