quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Macumba-lele-ai-ai!


Apareceu mais um cliente. Foi bom, porque os trezentos e tantos leus do militar já estavam no final. Terminei por só comer batatas cozidas com sal e um pouco de um óleo que o meu vizinho me deu e do qual não quero pensar na origem. A verdade é que parecia óleo de trator.
É uma paciente já idosa e que diz ser brasileira. O sotaque dela é meio esquisito, parecendo de um carioca alemão. Dá para entender?
Se eu disser que ela é obesa, estou sendo delicado. Tem alguma coisa em torno de um metro e sessenta e deve pesar uns cento e quarenta quilos. Disse-me que o seu nome é Baby Rubi.
Quando eu disse que ninguém se chama Baby, ela tirou as calcinhas pela cabeça.
— Mas eu me chamo assim!
— Impossível. Ninguém se chama de Baby. Isto pode ser um apelido, ironia, chalaça, mas nome que é nome, certamente que não.
A mulher estava reclinada no divã, mas com a minha afirmativa, deu um pulo e botou o dedão na minha cara.
— Está querendo levar um sopapo?
Como eu estava a fim dos 600 leus que pensava em lhe tomar, e não queria tomar uma surra, tratei de recuar.
— Não. Não, em absoluto! Acredito piamente que a senhora se chama mesmo Baby. Até porque tem a Baby Consuelo, o Baby Pignatari e, afinal de contas, por que é que não poderia haver alguma Baby Rubi, né?
A senhora, que devia ter lá os seus oitenta e oito anos, se acalmou, e resolveu me contar a sua história. Para resumir, ela é a Bruxa daquela conversa do João e Maria, e alega que é inocente. Diz que foi enrolada pelos dois.
Afinal, eu a interrompi.
— Lamento, mas sua consulta está encerrada.
A dona Baby, como gostava de ser chamada, tirou um relógio do bolso e conferiu.
— Mas não tem nem uma hora de sessão!
— É mas tem, vejamos, cinquenta e dois minutos que já começou. — E antes que ela pudesse esticar a conversa, estendi a mão. — São seiscentos leus, se me faz o favor.
Sabe aquelas bolsinhas de brocado com aquela trave cruzada em cima? Pois bem, não é que a dona Baby puxou uma velha e xexelenta de dentro de suas saias e futucou até conseguir os 600 leus?
Mas era dinheiro. E eu peguei antes que ela se arrependesse.
— É bom que esta consulta funcione, porque senão…
Não entendi nada. Como é que alguém pode querer que uma consulta de psicanálise funcione?
Quase que lhe disse que nem quinhentas funcionam, mas não vou ferrar com o meu ganha-pão assim, né?
Vou mais é tomar um banho de sal grosso, e macumba-lele-ai-ai!


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